Muitos projetos, mas pouco tempo...

Eu adoro o meu trabalho. Mas às vezes ele é bastante estressante... Nestas últimas semanas tem sido assim. Muito trabalho, cabeça cheia, e pouco tempo para me dedicar aos meus passatempos.

Mas sempre sobra um tempinho... Felizmente!

Bem, estas são algumas das minhas atividades dos últimos dias:

A algum tempo atrás eu tive a idéia de homenagear alguns amigos do fórum Relógios Mecânicos (http://forum.relogiosmecanicos.com.br) que são os mais participativos e cujas postagens são as mais técnicas (e com os quais aprendi praticamente tudo o que sei de relojoaria).

A forma que escolhi para homenageá-los foi fazer uma faquinha em miniatura para cada um deles. Já terminei duas.

A primeira, que já enviei, foi feita para o amigo Igor Schütz. A lâmina é de aço 5160, empunhadura de chifre de cervo com pinos internos e bainha de couro de canela de avestruz:


A segunda, que está quase pronta (falta apenas a afiação, que acho que farei hoje a noite) será do Flávio Maia. Ele ainda nem desconfia que irá receber esta faca, rsrsrs. Estou combinando com ele para nos encontrarmos, pois ele está fazendo uns xerox para mim de um material sobre confecção de caixas de relógios (é... já tô inventando moda...). Quero fazer a entrega em mãos. É uma faca no estilo Sendero (desenho criado por um cuteleiro americano chamado Jerry Fisk), integral em aço 5160 e com empunhadura de chifre de búfalo. A bainha é de couro de porco:


A próxima já está a meio caminho... Será uma hunter (uma faca de caça), também em aço 5160, guarda provavelmente em latão ou em uma combinação de aço e latão, e com empunhadura de guajuvira. Esta será dedicada ao Mestre Douglas Gravina:


As demais ainda não comecei a fazer, mas os futuros proprietários serão Alberto Ferreira e Adriano Passarelli.

Saindo das facas e continuando nos relógios, recebi uma agradável missão do meu amigo Gustavo Engel, restaurar um belo Alpina de bolso. Na verdade não serei realmente eu que irei fazer a restauração. Mas irei acompanhá-la de perto. Já está no estaleiro e estou caçando a tige:



Provavelmente esta semana irei começar mais uma restauração. É um Citizen automático muito interessante. Espero que não tenha nenhum problema insolúvel como aquele Orient de algum tempo atrás...



E finalmente, a maior notícia para minha coleção: Ganhei um Hampden de 1897 em estado absolutamente impecável! Presente do meu amigo Igor Schütz. Como a caixa dele não é original, irei futuramente usinar uma caixa em aço damasco para este magnífico relógio:




Até a próxima!

Sistema de Afiação Lansky

A alguns dias eu adquiri um conjunto de afiadores da marca Lansky, bastante conceituada nos EUA. Hoje de tarde experimentei o conjunto pela primeira vez e vou registrar aqui as minhas impressões.

O conjunto é composto por 5 pedras:

  • extra-grossa (grana 70)
  • grossa (grana 120)
  • média (grana 280)
  • fina (grana 600)
  • extra-fina (grana 1000)
Acompanha o conjunto 5 hastes para fixação das pedras, guia de ângulo e óleo especial para afiação.


Para uma maior versatilidade na afiação, comprei também 3 pedras diamantadas (extra-grossa, grossa e média) que serão utilizadas para definir o vazado de afiação e reparar lâminas danificadas.


Complementando o conjunto, um grampo de bancada para apoiar a guia de ângulo.



Conjunto completo:


Utilização. Em primeiro lugar, prendemos o grampo a uma bancada:


Em seguida prendemos a faca à guia de ângulo:


A grande vantagem de utilizar o grampo é a possibilidade de se trabalhar em qualquer posição da lâmina:




Agora, é só escolher a pedra adequada e prendê-la em uma haste:



Para afiar, escolhemos um dos ângulos pré-definidos na guia de ângulo. São 4 posições que permitem afiar desde uma navalha até um facão de mato.


Para afiar, basta esfregar a pedra contra o fio da faca. A guia se encarregará de manter o ângulo correto do início ao fim, mesmo quando trocamos de pedra.



Gostei bastante do sistema. Obviamente ainda não tenho prática em seu uso, afinal foi apenas a primeira experiência, mas achei o sistema muito simples e extremamente eficiente.

As duas facas que afiei estão literalmente "barbeando".


Até a próxima!

Bainha de couro trançado - início da confecção

Ontem à noite eu comecei a fazer uma bainha em couro trançado, que será a "roupa" de uma faca que terminei a algum tempo atrás e que será presenteada a um grande amigo, o também cuteleiro Gustavo Engel.

E aproveitando a confecção, vamos a mais um passo-a-passo.

Estou utilizando 23 cordões de couro camurça, com aproximadamente 1 metro e meio de comprimento.



É muito importante marcar o centro de cada um dos cordões, para que o trançado permaneça correto.




O próximo passo é passar um dos cordões alternadamente por todos os outros.


Para a segunda passada, é bastante útil usar um livro para manter os demais cordões no lugar.


A segunda passada é feita com a outra metade do primeiro cordão, com alternâncias invertidas em relação a primeira.




No final da segunda passada, cada ponta do cordão deve ser levada para o lado inverso, efetuando mais um cruzamento.


Início da segunda passada, sempre invertendo as alternâncias em relação as passadas anteriores.


Após quatro passadas, o trançado já pode ser apertado. Vá trabalhando aos poucos, um cordão de cada vez, até que o trançado fique mais compacto.




Prosseguindo com as passadas.


Às vezes pode ocorrer de algum dos cordões rebentar, principalmente porque o couro camurça não é muito resistente a tração.


Neste caso deve ser feita uma amarração provisória com linha de cor contrastante. Esta linha será depois cortada e a emenda ficará praticamente invisível. ATENÇÃO: Jamais use cola para juntar os pedaços. O cordão ficará muito rígido na área colada e não vai ter jeito de esconder a emenda.



Por enquanto, é isto. Vou levar alguns dias (provavelmente algumas semanas...) para concluir a bainha. Mas vou tirar mais fotos e depois complemento este mini tutorial.




Até a próxima!

Ajustando uma mola de balanço

Hoje eu me arrisquei pela primeira vez numa manutenção que é considerada das mais difíceis dentro da relojoaria, o ajuste da mola do balanço, também conhecida como mola cabelo ou espiral do balanço.

Mas deixo já um aviso a quem quiser tentar o mesmo: utilize uma sucata! A possibilidade de se danificar irreversivelmente a mola é muito grande.

No meu caso, eu utilizei o balanço daquele Orient Azul que recebeu PT a alguns dias atrás. Pensei: o balanço está danificado mesmo. No máximo vai piorar...

Bem, retirei o conjunto do balanço e então com o auxílio de uma pinça fina, uma agulha e alguns copos de café, procurei desentortar as deformidades da mola, um pouco de cada vez, até que ela voltasse a forma original.

Foi um processo bastante demorado (quase 2 horas), mas no final até que ficou aceitável.

Instalei novamente o balanço (depois de ter feito uma limpeza e lubrificação da rodagem completa) e a máquina voltou a funcionar!

Infelizmente não fiz fotos do processo, porque fiquei bastante entretido no processo.

Tenho mais alguns movimentos com problema de balanço e vou tentar mais algumas vezes o procedimento. Na próxima eu faço fotos. Prometo!



Até a próxima





PS.: Já aproveitei e arrumei o mecanismo do calendário e providenciei um novo mostrador (verde varejeira...). Acho que vai sair mais um relógio para a coleção...

Desmonte completo - Seiko 6119-C

E ai está, como prometido: a sequência de desmontagem completa de um relógio. Neste caso, é um Seiko 6119-C (início da década de 70).

Como podem ver nas primeiras fotos, a caixa e o mostrador estão imprestáveis, porém a máquina ainda tem salvação... Embora o balanço não esteja muito bom.

As fotos mostram, passo a passo, a sequência de desmontagem que eu utilizo. Não sei se é a mais correta, mas é a que tem funcionado para mim. Tirei uma foto a cada peça removida. Assim, se alguém quiser tentar também, é só seguir os passos. Para remontar, é só ir voltando...

Para ampliar as fotos é só clicar sobre as mesmas.



Um pequeno parenteses aqui: Eu prefiro retirar o balanço antes mesmo de desmontar o mecanismo do calendário. Como ele é a parte mais sensível do mecanismo, acho melhor ele ficar protegido o quanto antes...


E voltamos a sequência principal...


Aqui uma dica de ouro: evite descarregar a corda removendo a âncora. O modo correto é liberando o cliquê (a mola em formato de haste sobre o tambor de corda), girando o parafuso da roda de carga até que a corda esteja totalmente desenrolada e finalmente removendo a roda de carga.

Um agradecimento especial ao Adriano do Fórum Relógios Mecânicos (http://forum.relogiosmecanicos.com.br) por esta inestimável dica.



Depois de tudo desmontado, deixo as peças mergulhadas em benzina por uma meia hora. Como não tenho máquina de limpeza, vou tirando as peças uma a uma e limpando manualmente com um pincel.



Apenas por curiosidade, um "antes e depois" da limpeza do tambor da corda. Reparem na quantidade de sujeira acumulada...


Agora é lubrificar o movimento, providenciar um novo mostrador e uma nova caixa e o relógio terá mais alguns bons anos de serviço.



Até a próxima